quinta-feira, junho 16, 2005

Scout Niblett - "Kidnapped by Neptune"

Este será o 3º álbum da canadiana Niblett, pelas minhas contas. E, tal como no anterior, a produção está a cargo de Steve Albini. E o moço, já entradote, não perdeu ainda o jeito para descobrir talentos fantásticos, e extrair deles a essência da sua criação musical, o dote mais puro que eles são capazes de oferecer.
"Kidnapped by Neptune" não difere muito de "I am". A mesma voz desgarrada e quase sufocada, a ditar as palavras em esparmos de incerteza, a mesma bateria a marcar os tempos. Neste álbum há mais guitarras, algumas bastante presentes nos temas que mais se assemelhariam a canções pop, se Niblett se desse ao trabalho de fazer canções pop.
De resto é o filão inexaurível de grandes ideias, misturando vocalizações raivosas e uivos guturais com lamentos semi-infantis e tiradas venenosas. Todo o conjunto parece semi-acabado, como se a pachorra não chegasse para mais. Mas é exactamente aí que Niblett bate P J Harvey ou Cat Powers aos pontos. Niblett só faz o que é estritamente necessário. O resto do trabalho é todo nosso. Como naqueles filmes em que só se dão pistas e o espectador constrói a história, "Kidnapped by Neptune" mostra-nos os cenários e dá-nos o guião. Os actores somos nós.

segunda-feira, junho 13, 2005

Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra and Tra-la-la Band - "Horses in the sky"

Se algo mudou no último registo dos Silver Mt. Zion, é a utilização da voz; neste álbum não há espaço para a "orquestra" criar a atmosfera luxuriante e o crescendo vibratório que dominavam grande parte da anterior discografia. Apenas em duas ou três passagens Efrim e Cia "permitem" que as vozes passem para segundo plano.
Decidam já se aceitam o registo vocal estridente de Efrim como o acompamento ideal para as construções melódicas; só posso assegurar que neste álbum já menos se vislumbram os Godspeed You! Black Emperor - e ainda bem!
Se cada vez mais os Silver Mt. Zion se aproximam da canção, a marcha épica dos temas ainda lá está. Desta vez acompanhada de refrões memorizáveis e quase assobiáveis que levam, como em nenhum outro ponto dos trabalhos anteriores, ou mesmo dos GY!BE, a uma identificação imediata com as músicas, que só tornam este um registo especial dos Silver Mt. Zion.
Basta ouvir a primeira música - "God bless our dead marines" - para identificar todos os ingredientes do álbum, a saber: melodias impecáveis, crescendos de voz e instrumentos magicamente construídos e um sentimento misto de elevação e angústia.
Num ano já marcado por muitos bons registos, mas ao qual tem faltado grandes obras, aqui está uma. Para guardar e ouvir muitas vezes.