sábado, dezembro 18, 2004

Uma sugestão

Um amigo de quem gosto muito fez anos ontem, e quando andava à procura de alguma coisa para lhe oferecer deparei com uma excelente prenda de Natal para pessoas com menos de 30 anos. Quando lhe dei com os olhos imediatamente percebi que "Stars and Topsoil" (2000) é uma introdução muito bem pensada ao mundo dos Cocteau Twins. Cobre todo o período em que os Cocteau gravaram para a 4AD (1982-90) e vai buscar um bocadinho de sonho a cada um dos álbuns da banda. Alguns dos grandes hinos estão lá ("Pearly-dewdrops' drops", "Carolyn's fingers") e embora faltem outros tantos ("The spangle maker", "Persifal", "Blue bell knoll" e outros), a verdade é que o espírito está neste CD. (Re)visitar os Cocteau Twins traz-me sempre memórias que eu quero trazer, e descubro o mesmo em outras pessoas. É uma das bandas que envelheceu comigo e que vou levar para sempre. Se me quiserem acompanhar na viagem, a sugestão está dada.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

The Legendary Tiger Man

Ontem fui ao bar "Metamorphosis" (acho que é assim que se escreve) em Braga assistir ao concerto do Paulo Furtado, ou The Legendary Tiger Man. O que tenho a dizer logo à partida é que foi muito bom. Bem melhor até do que estava a espera.
Já conheço o trabalho do homem, e tenho os dois CDs ("Naked blues", 2002 e "Fuck Christmas, i got the blues", 2003), mas nas gravações parecem-me mais evidentes as limitações de uma one-man-band. Fica-me sempre a impressão que falta qualquer coisa às canções.
Mas ontem Paulo Furtado mostrou que, além de bom compositor e cantor, é um excelente instrumentista, e tem alma para concertos. Todos os blues que saíram da sua combinação de guitarra-bombo-prato de choques sabiam a novo, mesmo aqueles que que se calhar já ouvi dezenas de vezes, naquela ou noutras vozes.
E ainda mostrou ter bom gosto; as duas versões ("Route 66", que já não me recordo de quem é, e "She said", que conheço da extraordinária versão dos Cramps) só acrescentaram poder de corte à navalha afiada que provou ser ao vivo.
Não gostei de alguns detalhes: o concerto começou já a passar a meia-noite; não tocou "Fuck Christmas, i got the blues" (segundo percebi, foi uma promessa feita a alguém); e, principalmente, os comentários feitos entre-músicas. Será que toda a gente acha que tem que ter piada?

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Eu tenho uma banda.

É verdade.
Hoje fomos tocar ao Estabelecimento Prisional de Braga, inseridos na Festa de Natal.
Antes de concerto não conseguia imaginar a cena: uma banda de post-rock, com temas completamente instrumentais, a tocar para reclusos numa Festa de Natal.
Conto-vos um segredo: foi das experiências mais surreais da minha vida, e uma tarde completamente inesquecível. No último tema, já estava a ver que ia haver um motim na cadeia. O cenário era: cinco pessoas em palco a descarregar distorção e noise e umas cem mais abaixo aos berros com os braços no ar em uma mistura apoteótica de transe e catarse colectiva. E os directores, psicóloga e assistente social a tentar tapar os ouvidos com as mãos, porque o barulho era ensurdecedor.
Não consigo explicar melhor. Se a gravação que fizemos ficar audível tentarei partilhá-la convosco. Mas só mesmo visto.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Pixies

Em 89 conheci o "Doolittle" através de uma cassete que andava lá na escola. Logo de enfiada comprei esse mais o "Surfer Rosa" e o "Come on Pilgrim", por essa ordem. Na altura citava os Pixies como uma das minhas referências, mas sem estatuto especial.
É curioso, mas ao contrário de muito boa gente que descobriu de imediato o valor seminal da obra inicial dos bostonianos, eu demorei algum tempo a perceber o que eram os Pixies.
Um passo importante foi vê-los no Coliseu do Porto, em 91, quando saí a gritar "Taaaammmeee" a plenos pulmões pela Rua Passos Manuel abaixo.
Mas foi necessário que existissem os álbuns menores da banda ("Bossanova" e "Trompe Le Monde") para que eu começasse a compreender quão bons eram os primeiros trabalhos, em especial o "Surfer Rosa".
No entanto, foi apenas há poucos anos que eu percebi que a "música dos Pixies" é um conceito absoluto, um axioma a partir do qual eu posso criar outras definições de música. Para mim, "música dos Pixies" seria mais um verbete numa enciclopédia, ao lado de música erudita ou clássica. Portanto, os Pixies demoraram 10 anos a explodir cá dentro, mas foi definitivo.
Assim, é até com alguma emoção que encomendei "Frank Black Francis", um CD duplo que reúne a demo-tape original de "Come On Pilgrim" e "Surfer Rosa" e remisturas de temas dos Pixies. De momento, estou a saborear a antecipação da chegada do CD, quando vou poder reviver as sensações de encontrar música em estado bruto e brutal. Aguardem.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Vincent Gallo

Normalmente não sou aficcionado de bandas sonoras, mas esta é especial: é do filme "The Brown Bunny", de Vincent Gallo. Em primeiro lugar, o filme é excelente (talvez o melhor do ano), e depois a maior parte da banda sonora é composta por canções acústicas de John Frusciante. Estas canções não aparecem no filme, mas as primeiras músicas do CD estão lá, e quem viu o filme percebeu a integração exemplar entre as músicas e a acção. Não é fácil conseguir o disco, mas com um bocado de paciência chegam lá.

domingo, dezembro 12, 2004

Hmmm...

Não sei se alguém seguiu as minhas sugestões de discos para o fim de semana. Eu segui e lixei-me. Os Set Fire to Flames e o Omar Rodriguez desiludiram-me completamente. No primeiro caso, o álbum é simplesmente seco. Só conceitos e muito pouco desenvolvimento no que diz respeito à música.
O disco do guitarrista dos Mars Volta é exactamente aquilo que o título anuncia: destreza manual. É bem verdade que a técnica é uma ferramenta valiosíssima para um músico, mas ainda é mais verdade que virtuosismo não equivale a boa música. Neste exemplo podemos dizer que o que lhe sobrou em habilidade faltou em sentimento.
No entanto qualquer coisa se safou. O último álbum de Sufjan Stevens é muito bom, talvez mesmo o melhor dele. Embora eu desconfie sempre dos "cantautores", pela quase irresistível tentação de caírem na indulgência e auto-repetição, Stevens conseguiu alinhar um punhado de canções com valor e alicerçadas numa boa base instrumental. A descobrir.