sábado, janeiro 08, 2005

8. Devendra Banhart - "Rejoicing in the hands"

Serão poucos os músicos com o talento para escrever canções de Devendra Banhart. Devendra editou 4 álbuns nos últimos dois anos e todos eles possuem canções poderosas, interpretadas com um estilo único, que combina na mesma pessoa alegria, beleza, melancolia, sobriedade e luxúria. Quando o vi ao vivo, também constatei que é dono de uma voz única e fantasiosa e um bom instrumentista.
"Rejoicing in the hands" será o registo em que mais dessas canções, por coincidência ou não, aportam.
Devendra Banhart será, espero eu, um dos maiores expoentes da canção. Só necessita de maior maturidade e, principalmente, de deixar de estar tão apaixonado por si próprio. Nos discos e ao vivo, passa a ideia de que pensa ser capaz de fazer qualquer coisa. Não é. Só assim se explica a profusão de registos similares e confundíveis entre si.
Banhart gravou 4 das melhores demo-tapes de sempre. Vamos ver como se porta quando fizer um álbum a sério.

A sphere in the heart of silence

Se eu conseguisse escrever poesia, estariam a ler versos dedicados a "At your enemies", quinta faixa do último álbum de John Frusciante e Josh Klinghoffer. Como não sou capaz, terão de imaginar uma voz aérea (Elisabeth Fraser masculino) sobre uma base de sintetizadores. Ou melhor, peguem no CD e avancem até a faixa 5, deixem em repeat e oiçam umas 10 vezes.
"A sphere in the heart of silence" é o 5º CD da série que Frusciante está a editar. O álbum é descrito como "música electrónica". Mas não é electrónico como costumamos entender. Frusciante quer dizer que a base melódica é formada por sintetizadores, teclados e efeitos, e não os habituais baixo e guitarra.
4 canções fantásticas: "Walls", "Communique" - Josh na voz sussurrada e piano, "At your enemies" e "Surrogate people".
Para ouvir de olhos fechados, a pedir à música que nos envolva e arrebate o espírito.
Vou pedir ao valter hugo mãe para escrever os versos.
Estará na lista de 2005.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

9. Cocorosie - "La maison de mon rêve"

"La maison de mon rêve" despertou sentimentos díspares em cada audição. Entre a paixão e o ódio andei a tentar compreender o que é este álbum. Razões para adorar: as canções delicadas, sempre à espera de um abanão para despedaçarem-se; as vozes etéreas e sussurradas; os arranjos simples mas eficazmente inteligentes. O que eu detestava era a afectação que transpira deste CD. Tudo é afectado, desde a capa até ao canto das meninas, como quem diz "deixa lá despachar mais uma cantiguinha".
Em tempo descobri que sou eu que estou mal: elas são afectadas porque sabem. Sabem compor, sabem cantar, sabem colocar uns sons de brincadeira nas músicas, sabem imitar e sabem encantar.
E sabem bem.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

10. Sonic Youth - "Sonic nurse"

Nesta última fase da sua carreira, os Sonic Youth encontraram o equilíbrio na composição que lhes parece permitir continuar a fazer música de primeira qualidade para sempre; a sensação de "Sonic nurse" é a de um ensaio, de relaxamento e de à-vontade. Está uns degraus aquém de "Murray street" (2002) e ainda mais alguns dos fantásticos "NYC ghosts & flowers" (2000) e "A thousand leaves" (1998), mas os ingredientes estão todos lá. Os duelos entre a guitarra mais rústica e abrasiva de Thurston Moore e a melódica e "moody" de Lee Ranaldo ainda têm o mesmo encanto. É verdade, as canções não ajudam tanto, alguns pontos menos fortes (as canções de Kim Gordon e Ranaldo) são mais evidentes, e não estão lá clássicos como "Karen Koltrane", "Sunday" ou "Free city rhimes", mas o álbum tem o todo o glamour dos Sonic Youth. E é assim que nós queremos que seja.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

11. Ikara Colt - "Modern Apprentice"

Quem tem mais de 30 anos sabe a definição de uma banda rock. Guitarras a rasgar, um baixo a marcar os acordes, bateria básica e um gajo aos gritos. Não havia praqui teclas, nem efeitos, nem samplers, nem cantar. Os Ikara Colt são uma banda rock. As comparações com os Fall os ou Sonic Youth são óbvias. E sabem porquê? Porque os Fall e os Sonic Youth são bandas rock e são fenomenais. Os Ikara Colt ainda não são fenomenais porque só têm dois álbuns, mas para lá caminham.
"Modern Apprentice" é uma continuação do excelente "Chat and Business" (2002), e se a lição é diferente, a matéria é a mesma. Canções rock despachadas com a confiança própria de quem domina o assunto. Posso dizer uma coisa? Que se lixe a originalidade, eu quero é andar aos saltos!!!

terça-feira, janeiro 04, 2005

12. Interpol - "Antics"

Nos útlimos anos um número crescente de bandas têm procurado desvendar um dos grandes segredos da música pop: o que faziam os músicos do início dos anos 80 para criar canções tão cativantes como únicas? O que é que os Joy Division, Cure, Echo & The Bunnymen sabiam que nós não sabemos?
Os Interpol foram dos mais bem sucedidos nesta missão. Mais do que uma colagem, a assimilação é a arma que utilizaram. Depois do muito bem sucedido primeiro álbum, a batalha do segundo registo é ganha logo a abrir, com "Next exit", "Evil" e "Narc". Sim, eles sabem bem o que estão a fazer. Ian Curtis, onde quer que esteja, não desdenharia emprestar aqui alguns coros ou uma letras sobrantes.
Se todo o álbum fosse assim tão bom, provavelmente teríamos um clássico. Instala-se algum cansaço lá mais para frente. Não sei discernir se o cansaço é meu ou das canções, mas não faz mal. Nem que seja para ouvir uma música de cada vez, vale a pena.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

13. Sufjan Stevens - "Seven swans"

Não é surpreendente que os domínios do neo-folk (ou free-folk, ou alt.country, ou o que quiserem chamar) atraiam muitos navegadores; a fórmula é simples, o processo é barato e o resultado, de algum tempo para cá, tem dado milhões. Stevens consegue fugir ao indiferenciamento dos seus pares com um lote poderoso de canções, que é servido com um tratamento correcto. Não há nada em "Seven swans" que nos arrebate e inflame, mas é aquilo a que se costuma chamar um ábum "bonito". A falta do elemento de risco retira-lhe a hipótese de ser um marco; no entanto, acerta em cheio no objectivo de produzir beleza em forma de som.

domingo, janeiro 02, 2005

14. P J Harvey - "Uh huh her"

É claro que "Uh huh her" não é o trabalho em que o talento de PJ Harvey consegue mais espaço para brilhar. Ao longo de toda a carreira, Harvey tem sempre tentado escapar à repetição, ( no livreto do CD pode-se ler uma nota: "too normal? too PJH?") e mais uma vez faz um álbum que é bastante diverso de "Stories from sea...". Para o bem e para o mal.
Mas é de PJH que estamos a falar, e ela traz-nos um punhado de canções ("The life and death Of mr. Badmouthque", "Shame", "The letter", "The slow drug") que agarram e viciam. É um registo mais rock e blues que o anterior, e igualmente consumível.