"Loveless" tem um grande e inultrapassável defeito: depois de o criar, Kevin Shields e os seus My Bloody Valentine viram-se em mãos com a tarefa impossível não de ultrapassar, nem sequer igualar, mas criar algo que merecesse partilhar a sua matriz criativa. Desde 91, Shields tem sucessivamente adiado o regresso, esmagado por tamanho peso. Provavelmente nunca o fará.
"Loveless" transpira sensualidade, noise e beleza em todas as voltas do CD. Alberga a canção de amor perfeita ("When you sleep"), a canção pop perfeita ("To here knows when") e a canção para dançar ("Soon"). Além disso é o manual oficial dos shoegazers e do pedal de distorção.
É certo que demorou 18 meses a ser gravado, e rebetou a conta bancária da Creation, mas não me parece que sequer uma pequena parte deste tempo e dinheiro tenha sido mal gasto. Quase 15 anos passados, permanece como um tratado da pop com guitarras, e nenhum outro registo sequer conseguiu imitá-lo. É obra.
Muitas vezes hesito quando perguntam-me sobre o meu álbum favorito. Mas se a questão versar sobre o CD mais bonito que conheço, não há duvida: "Loveless". Devia ser prenda obrigatória no São Valentim.